sábado, 1 de setembro de 2012

Começa mais um "Mês da Bíblia"

No mês, em que a Igreja no Brasil, pede que nos dediquemos mais à leitura da Palavra de Deus e homenageando o grande tradutor da Bíblia Sagrada, São Jerônimo.
Às vésperas do "Ano da Fé" (2012-2013) que o papa Bento XVI vai inaugurar em 11/10 próximo, é válido muito bom entender muito bem a diferença entre "Fé humana" e "Fé Divina" e relação disso com a Bíblia. Isso, esclarece o texto que publicamos abaixo. Confira-o:


A Igreja ou a Bíblia? 


Padre Arnold Damen nasceu na província de North Brabant, Holanda, em 20 de março de 1815. Foi admitido na Companhia de Jesus em 21 de novembro de 1837, e esteve no grupo de jovens noviços trazidos para o seu país pelo Padre DeSmet, renomado missionário jesuíta para os índios americanos.
Fr. Arnold Damen, S.J.
(1815 - 1890)
Em sua ilustre carreira, que contou uns cinquenta anos de trabalho apostólico até a sua morte, em 1.º de janeiro de 1890, o Padre Damen e seus companheiros dirigiram missões em praticamente todas as principais cidades dos Estados Unidos. Diz-se que ele foi mais amplamente conhecido neste país, e que exerceu pessoalmente uma influência maior que qualquer bispo ou sacerdote na Igreja Católica.
Pequena maravilha, pois, pela sua majestosa presença e força de eloquência, o Padre Damen, como missionário, atingiu um sucesso que ultrapassou qualquer outro, antes — ou desde então —, que se saiba, na América. O inflamado zelo apostólico deste amado e piedoso sacerdote pode ser apenas estimado pelas vinte mil conversões ao catolicismo pelas quais ele foi responsável, amiúde recebendo sessenta ou setenta almas para a Igreja em um dia. É também digno de nota que, em meio ao seu notável trabalho, ele também conseguiu fundar e organizar as grandes instituições jesuítas de Chicago.
O que explica a realização inspiradora do Padre Damen? Como um escritor expressou: “Ele não se importou com aplausos ou críticas. Ele estava trabalhando para salvar almas”. Em outras palavras, suas nobres realizações foram frutos de imensa caridade. Ou seja, a caridade no sentido mais verdadeiro: Ele amava a Deus e seus companheiros tanto que ele não poupava a energia ou o esforço que fossem necessários para arrancar uma alma do erro espiritual e da escuridão que trariam a sua perda eterna. E para este santo jesuíta, tal era o destino certo e sempre presente fora da verdadeira Igreja.
O Padre Damen pregou numa época relativamente recente, quando os católicos não apenas ainda universalmente acreditavam, mas viviam segundo o infalivelmente declarado, imutavelmente constante dogma de Fé: “Fora da Igreja não há salvação”. Esse foi, de fato, todo o credo e ensino pelo qual ele efetivamente converteu tantos.

Introdução
O seguinte sermão é tão relevante hoje em dia quanto o foi há mais de 100 anos, quando pela primeira vez foi pregado pelo Padre Arnold Damen, S.J.
“’Não se pode ter Deus como Pai, se não tiver a Igreja como Mãe’, e, da mesma forma, não se pode ter o Verbo de Deus como fé, se não tiver a Igreja como mestra. É somente a infalível autoridade docente da Igreja, como foi prometido por Cristo, que preserva a Palavra de Deus da interpretação errônea”. Essa é a essência da doutrina do zeloso sacerdote. É também a essência do verdadeiro Cristianismo, como o Padre Damen prodigamente prova a partir da própria Escritura e do puro senso comum.
Todo leitor sincero da Bíblia deseja saber a verdadeira relação que Deus estabeleceu entre a Sua Igreja e a Sagrada Escritura. Nós, portanto, convidamos todos que amam a Bíblia a ler a exposição do Padre Damen com uma mente aberta, não seja que, lendo as Escrituras, “deturpem-nas para sua própria destruição” (2 Pe 3, 16).

Sermão do Padre Damen:

I. Queridos e Amados Cristãos: — Quando nosso Divino Salvador enviou os Seus Apóstolos e os Seus Discípulos por todo o universo a pregar o Evangelho para toda criatura, Ele estabeleceu as condições para a salvação desta forma: “Aquele que crer e for batizado”, disse o Filho de Deus Vivo, “será salvo, mas aquele que não crer será condenado” (Lc 16, 16). Aqui, portanto, Nosso Bendito Senhor estabeleceu as duas condições da salvação: Fé e Batismo. Aquele que crer e for batizado será salvo, mas aquele que não crer será condenado — ou é amaldiçoado. Portanto, duas condições da salvação: Fé e Batismo. Falarei, nesta tarde, da condição da Fé.
Devemos ter Fé para sermos salvos, e devemos ter a Fé Divina, não uma fé humana. A fé humana não salvará o homem, mas somente a Fé Divina. Crer em tudo o que Deus ensinou baseados na autoridade de Deus, e crer sem dubitação, sem hesitação; porque, desde o momento em que se começa a duvidar ou hesitar, começa-se a desconfiar da autoridade de Deus, e, portanto, a insultar Deus, duvidando da Sua palavra. A Fé Divina, portanto, é crer sem duvidar, sem hesitar. A fé humana é quando cremos em alguma coisa baseados na autoridade dos homens — ou autoridade humana. Isso é a fé humana. Mas a Fé Divina é crer sem duvidar, sem hesitar, em tudo o que Deus revelou, baseados na autoridade de Deus, na palavra de Deus.
Portanto, meu querido povo, não é uma questão de indiferença que religião um homem professa, desde que ele seja um bom homem.
Os senhores ouvem dizer hoje em dia, neste século XIX de pouca fé, que não importa qual religião um homem professa desde que ele seja um bom homem. Isso é heresia, meu querido povo, e eu provarei para os senhores que é assim. Se o que um homem acredita é matéria de indiferença, desde que ele seja um bom homem, então é inútil para Deus fazer qualquer revelação que seja. Se um homem é livre para rejeitar o que Deus revela, para que motivo Cristo enviou Seus Apóstolos e discípulos para ensinar todas as nações, se aquelas nações são livres para crer ou rejeitar os ensinamentos dos Apóstolos ou discípulos? Vê-se logo que isso seria um insulto para Deus.
Se Deus revela algo ou ensina algo, Ele pretende ser crido. Ele quer ser crido toda vez que ensina ou revela algo. O homem é obrigado a crer em tudo o que Deus revelou, pois, meu querido povo, somos obrigados a louvar a Deus tanto com nossa razão e inteligência quanto com nosso coração e vontade. Deus é mestre do homem todo. Ele reclama sua vontade, seu coração, sua razão e sua inteligência.
Que homem em sã consciência, a despeito de a que denominação, igreja ou religião ele pertença, negaria que somos obrigados a crer no que Deus ensinou? Tenho certeza de que não há nenhum cristão que negará que somos obrigados a crer em tudo o que Deus revelou. Portanto, não é matéria de indiferença que religião um homem professa. Ele precisa professar a religião verdadeira se quiser ser salvo.
Mas qual é a verdadeira religião? Crer em tudo o que Deus ensinou. Tenho certeza de que mesmo meus irmãos protestantes admitirão que isso é certo; porque, se não, diria que não são, de modo algum, cristãos.
“Mas o que é a verdadeira Fé?”
“A verdadeira Fé”, dizem os amigos protestantes, “é crer no Senhor Jesus”.
De acordo, os católicos acreditam nisso. Diga-me o que você quer dizer por crer no Senhor Jesus.
“Você deve crer”, diz o meu amigo Protestante, “que Ele é o Filho do Deus Vivo”.
Novamente de acordo. Graças a Deus, podemos concordar em alguma coisa. Cremos que Jesus Cristo é o Filho do Deus Vivo, que Ele é Deus. Nisso todos concordamos, exceto os unitarianos e os socinianos, mas os deixaremos aparte nesta noite. Se Cristo é Deus, então devemos crer em tudo o que Ele ensina. Não é assim, meus queridos e amados irmãos e irmãs protestantes? E isso é a verdadeira Fé, não é?
“Bem, sim”, diz meu amigo protestante, “acho que é a verdadeira Fé. Para crer que Jesus é o Filho do Deus Vivo, devemos crer em tudo o que Cristo ensinou”.
Nós, católicos, dizemos o mesmo, e nisso concordamos novamente. Devemos crer em Cristo, portanto, e isso é a verdadeira Fé. Devemos crer em tudo o que Cristo ensinou — o que Deus revelou — e sem essa Fé não há salvação; sem essa Fé não há nenhuma esperança do Céu; sem essa Fé há eterna condenação! Temos as palavras de Cristo que o atestam: “Aquele que não crer será condenado”, diz Cristo.

II. Mas se Cristo, meu querido e amado povo, ordena-me, sob pena de eterna condenação, crer em tudo o que Ele ensinou, Ele precisa dar-me o meio para conhecer o que Ele ensinou.
Se, portanto, Cristo ordena-me, sob pena de eterna condenação, Ele é obrigado a dar-me o meio de conhecer o que Ele ensinou. E o meio que Cristo nos dá para conhecê-lo precisa estar o tempo todo ao alcance de todas as pessoas.
Em segundo lugar, o meio que Deus nos dá para conhecer o que Ele ensinou precisa ser adaptado às capacidades de todas as inteligências — até a mais tola. Porque até mesmo aqueles do mais tolo entendimento têm o direito à salvação, e, consequentemente, eles têm o direito ao meio pelo qual aprenderão as verdades que Deus ensinou, para que possam crer nelas e ser salvos.
O meio que Deus nos dá para conhecer o que Ele ensinou deve ser um meio infalível. Porque, se for um meio que possa extraviar-nos, não pode, em absoluto, ser um meio. Precisa ser um meio infalível, de modo que, se um homem faz uso dele, infalivelmente, sem medo de engano ou erro, será levado a um conhecimento de todas as verdades que Deus ensinou.
Não creio que haja ninguém aqui presente — não me importo com o que ele seja, cristão ou incrédulo — que possa objetar às minhas premissas. E essas premissas são a base do meu discurso e do meu raciocínio, e, portanto, desejo que os senhores as tenham em mente. Repeti-las-ei, pois sobre essas premissas se assenta toda a força do meu discurso e raciocínio.
Se Deus me ordena, sob pena de eterna condenação, que creia em tudo o que Ele ensinou, Ele é obrigado a dar-me o meio para conhecer o que Ele ensinou. E o meio que Deus me dá precisa ter estado o tempo todo ao alcance de todas as pessoas — precisa ser adaptado às capacidades de todos os intelectos, precisa ser um meio infalível para nós, de modo que, se um homem faz uso dele, será levado ao conhecimento de todas as verdades que Deus ensinou.

III. Deu-nos Deus tal meio? “Sim”, dizem meus amigos protestantes, “Ele no-lo deu”. E do mesmo modo diz o católico: Deus nos deu tal meio. Qual é o meio que Deus nos deu pelo qual nós aprenderemos a verdade que Deus revelou? “A Bíblia”, dizem meus amigos protestantes, “a Bíblia, a totalidade da Bíblia, e nada além da Bíblia”. Mas nós, católicos, dizemos: “Não; não a Bíblia e sua interpretação privada, mas a Igreja do Deus Vivo”.
Provarei os fatos, e desafiarei todos os meus irmãos separados — e todos os pregadores no assunto — a provar que está errado o que eu direi nesta noite. Digo, pois, que não é a interpretação privada da Bíblia que foi indicado por Deus para ser a mestra do homem, mas a Igreja do Deus Vivo.
Porque, meu querido povo, se Deus pretendeu que o homem devesse aprender a Sua religião de um livro — a Bíblia —, com certeza Deus teria dado esse livro ao homem; Cristo teria dado esse livro ao homem. Fê-lo Ele? Não o fez. Cristo enviou os Seus Apóstolos por todo o universo e disse: “Ide, pois, e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a observar todas as coisas que Eu vos ordenei”.
Cristo não disse: “Sentai e escrevei Bíblias e espalhai-as pela terra, e deixai todo homem ler a sua Bíblia e julgar por si mesmo”. Se Cristo o houvesse dito, jamais haveria existido sobre a terra uma Cristandade, mas sim uma Babel e confusão, e nunca uma Igreja, a união de um corpo. Portanto, Cristo nunca disse aos Seus Apóstolos: “Ide e escrevei Bíblias e distribuí-as, e deixai cada um julgar por si mesmo”. Essa adição foi reservada para o século XVI, e temos visto o resultado disso. Desde o século XVI tem aparecido religião sobre religião, e igrejas sobre igrejas, e lutando e querelando umas com as outras. E tudo por causa da interpretação privada da Bíblia.
Cristo enviou Seus Apóstolos com autoridade para ensinar as nações, e nunca lhes deu nenhuma ordem de escrever a Bíblia. E os Apóstolos foram e pregaram por toda parte, e implantaram a Igreja de Deus por toda a terra, mas nunca pensaram em escrever.
A primeira palavra escrita o foi por São Mateus, e ele escreveu para o proveito de uns poucos indivíduos. Ele escreveu o Evangelho cerca de sete anos após Cristo ter deixado a terra, de modo que a Igreja de Deus, estabelecida por Cristo, existiu por sete anos antes que uma linha fosse escrita do Novo Testamento.
São Marcos escreveu por volta de dez anos depois que Cristo deixou a terra; São Lucas, cerca de vinte e cinco anos, e São João, cerca de sessenta e três anos após Cristo ter estabelecido a Igreja de Deus. São João escreveu a última parte da Bíblia — o Livro do Apocalipse — cerca de sessenta e cinco anos depois de Cristo ter deixado esta terra e a Igreja de Deus ter sido estabelecida. A religião católica existiu por sessenta e cinco anos antes que a Bíblia tivesse sido completada, antes que ela fosse escrita.
Agora, pergunto-lhes, meus queridos e amados irmãos separados, onde esses cristãos, que viveram durante o período entre o estabelecimento da Igreja de Jesus e a finalização da Bíblia, esses verdadeiros cristãos, bons cristãos, iluminados cristãos? Conheceram eles a religião de Jesus? Onde está o homem que ousará dizer que aqueles que viveram desde o tempo em que Cristo foi-Se para o Céu até o tempo em que a Bíblia foi acabada não foram cristãos? Admite-se por todos os lados, por todas as denominações, que eles foram de fato os melhores cristãos, as primícias do Sangue de Jesus Cristo.
Mas como eles aprenderam o que deviam fazer para salvar suas almas? Foi na Bíblia que o aprenderam? Não, porque a Bíblia não havia sido escrita. E Nosso Senhor teria deixado a Sua Igreja por sessenta e cinco anos sem um mestre, se a Bíblia é a mestra do homem? Segurissimamente não.
Foram cristãos os Apóstolos, pergunto-lhes, meus caros amigos protestantes? Vocês dizem: “Sim, senhor; eles foram, de fato, os fundadores do cristianismo”. Então, meus queridos amigos, nenhum dos Apóstolos jamais leu a Bíblia; nenhum deles exceto, talvez, São João. Porque todos eles morreram mártires da Fé de Jesus Cristo e nunca viram a capa da Bíblia. Todos eles morreram mártires e heróis da Igreja de Jesus antes que a Bíblia fosse acabada.
Como, então, aqueles cristãos que viveram nos primeiros sessenta e cinco anos após a ascensão de Cristo — como eles souberam o que deveriam fazer para salvar suas almas? Eles o souberam precisamente do mesmo modo que os senhores o sabem, meus queridos amigos católicos. Os senhores o sabem pelos ensinamentos da Igreja de Deus, e assim o souberam os cristãos primitivos.

IV. Não por apenas sessenta e cinco anos Cristo deixou a Igreja que Ele estabelecera sem uma Bíblia, mas por mais de trezentos anos. A Igreja de Deus foi estabelecida e continuou se espalhando por todo o globo sem a Bíblia por mais de trezentos anos. Em todo aquele tempo, o povo não soube em que consistisse a Bíblia.
Nos tempos dos Apóstolos havia muitos falsos evangelhos. Havia o Evangelho de Simão, o Evangelho de Nicodemos, de Maria, de Barnabé, e o Evangelho da Infância de Jesus. Todos esses evangelhos foram espalhados entre o povo, e o povo não sabia quais deles eram inspirados e quais eram falsos e forjados. Mesmo os próprios doutos disputavam se deveria ser dada preferência ao Evangelho de Simão ou àquele de Mateus — ao Evangelho de Nicodemos ou ao Evangelho de Marcos, ao Evangelho de Maria ou àquele de Lucas, ao Evangelho da Infância de Jesus ou ao Evangelho de São João Evangelista.
E assim era com respeito às epístolas: Muitas falsas epístolas foram escritas, e o povo esteve perdido por mais de trezentos anos, sem saber quais eram falsas ou forjadas, e quais inspiradas. E, portanto, eles não sabiam em que consistiam os livros da Bíblia.
Não foi antes do quarto século que o Papa de Roma, a Cabeça da Igreja, o sucessor de São Pedro, reuniu os Bispos do mundo num concílio. E naquele concílio decidiu-se que a Bíblia, como nós, católicos, a temos hoje, é a Palavra de Deus, e que os Evangelhos de Simão, Nicodemos, Maria, a Infância de Jesus e Barnabé, e todas aquelas outras epístolas eram forjadas, ou, pelo menos, inautênticas; que pelo menos não havia nenhuma evidência da sua inspiração, e que os Evangelhos dos Santos Lucas, Mateus, Marcos e João, e o Livro do Apocalipse, foram inspirados pelo Espírito Santo.
Até aquele tempo, todo o mundo, por trezentos anos, não soube o que era a Bíblia; portanto, eles não podiam ter a Bíblia como guia, porque eles não sabiam em que consistia a Bíblia. Teria nosso Divino Salvador, e Ele pretendesse que o homem aprendesse a Sua religião de um livro, deixado o mundo cristão por trezentos anos sem aquele livro? Segurissimamente não.

Monge copista - Idade Média
V. Não por apenas trezentos anos o mundo foi deixado sem a Bíblia, mas por mil e quatrocentos anos o mundo cristão foi deixado sem o Livro Sagrado.
Antes que a arte da impressão fosse inventada, Bíblias eram raridade; Bíblias eram coisas caras. Ora, todos os senhores devem estar cientes, se já leram alguma coisa de História, que a arte da impressão foi inventada há pouco mais de quatrocentos anos — pelo meio do século XV — e cerca de cem anos antes que houvesse um protestante no mundo.
Como eu disse, antes que a impressão fosse inventada, livros eram coisas raras e caras. Os historiadores nos dizem que no século XI — oitocentos anos atrás — Bíblias eram tão raras e tão caras que era necessária uma fortuna, uma fortuna considerável, para comprar uma cópia da Bíblia! Antes da arte da impressão, tudo tinha de ser feito com a pena sobre pergaminho de couro de ovelha. Era, portanto, uma operação tediosa e lenta — uma operação cara.
Ora, para chegar ao provável custo de uma Bíblia naquele tempo, suponhamos que um homem devia trabalhar dez anos para fazer uma cópia da Bíblia e ganhar um dólar por dia. Bem, então o custo da Bíblia seria de $3.650. Agora, suponhamos que um homem devia trabalhar copiando a Bíblia por vinte anos, como os historiadores dizem que teria sido necessário naquele tempo, não tendo as conveniências e melhorias para ajudá-lo, como as temos hoje em dia. Então, por um dólar ao dia, por vinte anos, o custo de uma Bíblia seria de cerca de $8.000.
Suponham que eu chegasse para os senhores e dissesse: “Meu querido povo, salvem suas almas, porque, se perderem suas almas, tudo estará perdido”. Os senhores perguntariam: “O que devemos fazer para salvar as nossas almas?”. O pregador protestante lhes diria: “Os senhores precisam comprar uma Bíblia; podem comprá-la em tal ou tal loja”. Os senhores perguntariam o preço e seriam informados de que é de $8.000. Exclamariam, então: “O Senhor nos salve! E não podemos ir para o Céu sem esse livro?”. A resposta seria: “Não; os senhores precisam ter a Bíblia e lê-la”. Murmuram pelo preço, mas lhes perguntam: “Sua alma não vale $8.000?”. Sim, de fato o vale, mas você diz que não tem o dinheiro, e, se não pode comprar uma Bíblia, e sua salvação depende disso, evidentemente terá de ficar de fora do Reino dos Céus. Seria uma condição desesperadora, sem dúvida.
Por mil e quatrocentos anos o mundo foi deixado sem uma Bíblia — nem um em dez mil, nem um em vinte mil, antes que a arte da impressão fosse inventada, tinha a Bíblia. E teria nosso Divino Senhor deixado o mundo sem aquele livro, se ele era necessário para a salvação do homem? Segurissimamente não.

VI. Mas suponhamos, por um momento, que todos tivessem Bíblias, que as Bíblias tivessem sido escritas desde o princípio, e que todo homem, mulher e criança tivessem uma cópia. Que bem seria aquele livro para pessoas que não soubessem como lê-lo? É algo cego para tais pessoas.
Mesmo hoje metade dos habitantes da terra não podem ler. Além disso, como a Bíblia foi escrita em grego e hebraico, seria necessário saber essas línguas para ser capaz de lê-la.
Mas se sabe que hoje a temos traduzida para o francês, inglês e outras línguas do presente. Sim, mas você tem certeza que ter uma tradução fiel? Se não, você não tem a Palavra de Deus. Se você tem uma falsa tradução, isso é obra humana. Como você pode ter certeza disso? Como descobrirá se tem uma tradução fiel do grego e hebraico?
“Eu não sei grego nem hebraico”, diz o meu amigo separado; “para a minha tradução, dependo da opinião dos entendidos”.
Bem, então, meus queridos amigos, suponham que os entendidos estejam divididos nas suas opiniões, e alguns deles dissessem que ela é boa, e alguns, falsa? Então já era a sua fé; necessariamente, começará a duvidar e hesitar, porque não sabe se a tradução é boa.
Agora, a respeito da tradução protestante da Bíblia, permitam-me dizer-lhes que os mais entendidos dentre os protestantes lhes dizem que a sua tradução — a edição do Rei Tiago — e uma tradução realmente falha e cheia de erros. Os senhores sabem de muitos entendidos teólogos, pregadores e bispos que escreveram volumes inteiros para apontar todos os erros que existem na tradução do Rei Tiago, e protestantes de várias denominações reconhecem isso.
Alguns anos atrás, quando eu vivia em St. Louis, houve naquela cidade uma convenção de ministros. Todas as denominações foram convidadas, sendo o objetivo organizar-se para uma nova tradução da Bíblia, e dá-la ao mundo. Os procedimentos da convenção eram publicados diariamente no Missouri Republican. Um presbiteriano muito entendido, creio que fosse, levantou-se, e, para ressaltar a necessidade de se fazer uma nova tradução da Bíblia, disse que na presente tradução protestante da Bíblia havia nada menos do que trinta mil erros.
E vocês dizem, meus queridos amigos protestantes, que a Bíblia é o seu guia e mestre. Que mestre, com trinta mil erros! O Senhor nos livre de tal mestre! Um erro já é ruim o suficiente, mas trinta mil é um pouco demais.
Outro pregador levantou-se na convenção — penso que ele era batista — e, ressaltando a necessidade de fazer uma nova tradução da Bíblia, disse que pelos últimos trinta anos o mundo estava sem a Palavra de Deus, porque a Bíblia que nós tínhamos não era, em absoluto, a Palavra de Deus.
Aí estão seus próprios pregadores, para vocês. Todos vocês lêem os jornais, sem dúvida, meus amigos, e devem saber o que aconteceu na Inglaterra há alguns anos. Uma petição foi enviada ao Parlamento para a liberação de alguns milhares de libras esterlinas para se fazer uma nova tradução da Bíblia. E esse movimento foi encabeçado e dirigido por bispos e clérigos protestantes.
VII. Mas, meu querido povo, como nós podemos estar certos de nossa fé? Vocês dizem que a Bíblia é o seu guia, mas não sabem se a têm. Suponhamos, por um momento, que todos tivessem uma Bíblia. Se todos a lessem e tivessem uma tradução fiel, mesmo assim ela não poderia ser o guia do homem, porque a interpretação privada da Bíblia não é infalível, mas, pelo contrário, sumamente falível. É a fonte de todos os tipos de erros e heresias, e de todos os tipos de doutrinas blasfemas. Não se choquem, meus queridos amigos; fiquem calmos e escutem os meus argumentos.
Há agora, no mundo todo, trezentas e cinquenta denominações diferentes de igrejas, e todas elas dizem que a Bíblia é a sua guia e mestra. E suponho que todas são sinceras. São todas elas igrejas verdadeiras? Isso é impossível. A verdade é una como Deus é uno, e não pode haver nenhuma contradição. Todo homem em sã consciência vê que nenhuma delas pode ser verdadeira, porque elas divergem e contradizem umas as outras, e não podem, portanto, ser todas verdadeiras. Os protestantes dizem que o homem que ler a Bíblia reta e piedosamente tem a verdade, e todos eles dizem que a lêem retamente.
Suponhamos que haja um ministro da igreja episcopal. Ele é um homem sincero, honesto, bem-intencionado e piedoso. Ele lê a sua Bíblia num espírito piedoso, e, da palavra da Bíblia, ele diz que é claro que deve haver bispos. Porque, sem bispos, não pode haver sacerdotes, sem sacerdotes não haveria Sacramentos, e sem Sacramentos não haveria Igreja. O presbiteriano é um homem sincero e bem-intencionado. Ele também lê a Bíblia, e deduz que não deve haver bispos, mas somente presbíteros. “Aqui está a Bíblia”, diz o episcopaliano; e “aqui está a Bíblia para provar que você está mentindo”, diz o presbiteriano. E, mesmo assim, ambos são homens piedosos e bem-intencionados.
Então chega o batista. Ele é um homem bem-intencionado, honesto, e também piedoso. “Bem”, diz o batista, “vocês já foram batizados?” “Eu fui”, diz o episcopaliano, “quando era bebê”.
“Eu também”, diz o presbiteriano, “o fui quando era bebê”. “Mas”, diz o batista, “vocês vão para o Inferno, tão certamente quanto vocês vivem”.
Então chega o unitariano, bem-intencionado, honesto e sincero. “Bem”, diz o unitariano, “permitam-me dizer-lhes que vocês são um punhado de idólatras. Vocês louvam como Deus um homem que não é, em absoluto, Deus”. E ele dá vários textos da Bíblia para prová-lo, enquanto os demais fecham os ouvidos para não ouvir as blasfêmias do unitariano. E todos defendem que possuem o verdadeiro significado da Bíblia.
Então chega o metodista, e diz: “Meus amigos, vocês têm alguma religião que seja?”. “Certamente a temos”, dizem eles. “Alguma vez vocês já sentiram a religião”, diz o metodista, “o espírito de Deus se movendo dentro de vocês?” “Não tem sentido”, diz o presbiteriano, “nós somos guiados pela nossa razão e juízo”. “Bem”, diz o metodista, “se você nunca sentiu a religião, você nunca a teve, e irá eternamente para o Inferno”.
Em seguida, chega o universalista, e os ouve ameaçando uns aos outros com o eterno fogo infernal. “Ora”, diz ele, “vocês são uma classe estranha de pessoas. Vocês não entendem a Palavra de Deus? Não existe nenhum Inferno. Essa ideia é boa o suficiente para amedrontar velhas e crianças”, e ele o prova pela Bíblia.
Então chega o Quaker. Ele os insta a não discutir, e aconselha-os a não se batizar. Ele é o mais sincero dos homens, e mostra a Bíblia como sua fé.
Outro chega e diz: “Batizem apenas os homens, e não as mulheres. Porque a Bíblia diz que, a menos que o homem nasça novamente da água e do Espírito Santo, ele não poderá entrar no Reino dos Céus”. “Então”, diz ele, “com as mulheres está tudo certo, mas batizem os homens”.
Então chega o Shaker, e diz: “Vocês são um povo presunçoso. Vocês não sabem que a Bíblia lhes diz que devem trabalhar pela sua salvação com temor e tremor, e vocês não tremem nem um pouco. Meus irmãos, se vocês querem ir para o Céu, vibrem, meus irmãos, vibrem!”.
VIII. Eu juntei aqui sete ou oito denominações, divergindo uma da outra, ou entendendo a Bíblia de diferentes modos, para ilustrar os frutos da interpretação privada. Que seria se eu juntasse as trezentas e cinquenta diferentes denominações, todas tomando a Bíblia por sua guia e mestra, e todas divergindo uma da outra? Estão todas corretas? Uma diz que há Inferno, e outra diz que não há Inferno. Estão ambas certas? Uma diz que Cristo é Deus; outra diz que Ele não O é. Uma diz que elas não são essenciais. Uma diz que o Batismo é um requisito, e outra diz que não. Estão ambas certas? Isso é impossível, meus amigos; todas não podem estar certas.
Qual, então, está certa? Aquele que tem o verdadeiro significado da Bíblia, diz você. Mas a Bíblia não nos diz quem é ele — a Bíblia nunca resolve a querela. Ela não é a mestra.
A Bíblia, meu querido povo, é um bom livro. Nós, católicos, consentimos que a Bíblia é a Palavra de Deus, a mensagem inspirada, e todo católico é exortado a ler a Bíblia. Mas, boa como é, a Bíblia, meus queridos amigos, não se explica a si mesma. Ela é um bom livro, a Palavra de Deus, a mensagem inspirada, mas a sua interpretação da Bíblia não é mensagem inspirada. O seu entendimento da Bíblia não é inspirado — porque, com certeza, você não pensa ser inspirado!
É com a Bíblia assim como é com a Constituição dos Estados Unidos. Quando Washington e os seus associados estabeleceram a Constituição e a Lei Suprema dos Estados Unidos, eles não disseram para o povo dos Estados: “Que todo homem leia a Constituição e governe-se a si mesmo; que todo homem faça a sua própria explicação da Constituição”. Se Washington tivesse feito isso, nunca teriam existido os Estados Unidos. Todas as pessoas teriam se dividido entre si, e o país teria sido picado numa centena de diferentes divisões e governos.
O que fez Washington? Ele deu ao povo a Constituição é a Lei Suprema, e indicou a sua Suprema Corte e Supremo Juiz da Constituição. E esses devem dar a verdadeira explicação da Constituição para todos os cidadãos americanos — todos, sem exceção, do presidente ao mendigo. Todos estão obrigados a seguir as decisões da Suprema Corte, e é isso, e só isso, que pode manter o povo unido, e manter a união dos Estados Unidos. No momento em que as pessoas começarem a fazer a sua própria interpretação da Constituição, será o fim da união.
E assim é em todo governo — assim é em todo lugar. Há uma Constituição, uma Suprema Corte ou Lei, um Supremo Juiz daquela Constituição, e a Suprema Corte deve dar-nos o significado da Constituição e a Lei.
Em todo país bem regulado deve haver algo como isso — uma Suprema Lei, uma Suprema Corte, um Supremo Juiz, para que todo o povo cumpra. Há em todo país uma Suprema Lei, uma Suprema Corte, um Supremo Juiz; e todos são obrigados pelas decisões, e sem isso nenhum governo se manteria. Mesmo entre as tribos indígenas existe essa condição. Como eles se mantêm unidos? Pelo seu chefe.
Assim, nosso Divino Salvador também estabeleceu a Sua Suprema Corte — Seu Supremo Juiz — para dar-nos o verdadeiro significado das Escrituras, e para dar-nos a verdadeira revelação e as doutrinas da Palavra de Jesus. O Filho do Deus Vivo empenhou a Sua Palavra que a Suprema Corte é infalível, e, portanto, o verdadeiro católico nunca duvida.
“Eu creio”, diz o católico, “porque a Igreja me ensina assim. Eu creio na Igreja porque Deus me mandou crer nela. Ele disse: ‘Ouvi a Igreja, e aquele que não ouvir a Igreja seja para ti como um pagão e um publicano’. ‘Aquele que crer em vós crê em Mim’, disse Cristo, ‘e aquele que vos desprezar, despreza a Mim.’” Portanto, o católico crê porque Deus falou, e baseado na autoridade de Deus.
Mas os nossos amigos protestantes dizem: “Nós cremos na Bíblia”. Muito bem; como você entende a Bíblia? “Bem”, diz o protestante, “no melhor da minha opinião e julgamento, este é o significado do texto”. Ele não tem certeza disso, mas, no melhor da sua opinião e julgamento. Isso, meus amigos, é apenas testemunho de um homem — é apenas fé humana, não Fé Divina.
É somente por meio da Fé Divina que damos honra e glória a Deus, por que adoramos a Sua infinita sabedoria e veracidade, e essa adoração e louvor é necessária para a salvação.

Fonte: Católicos online. Acesso em: 24/VII/2012.

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